DESCONHECENDO
O QUE POSSUI
“Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao
aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. [...] Ele se
indignou e não queria entrar; saindo, porém o pai procurava
conciliá-lo.” (Lucas 15.25,28).
1
– Quando o ressentimento toma posse da capacidade avaliativa de
quem somos.
Para
o escritor Henri Nouwen em seu livro: A Volta do Filho Pródigo. Em
algum momento da vida nos identificamos com o filho mais velho da
parábola relatada por Jesus. Expondo sua própria experiência diz:
“Nunca saí de casa, nem desperdicei meu tempo e dinheiro em
prazeres do sexo; jamais me perdi em ‘devassidão ou embriaguez’”.
Entretanto, prossegue Nouwen, “Enxerguei o meu ciúme, raiva,
suscetibilidade, obstinação, mau humor e, acima de tudo, meu
farisaísmo sutil. Vi o quanto meu pensar e agir estavam imbuídos de
ressentimento”. (NOUWEN, 1997 p 28).
O
filho mais velho jamais saiu de casa, não violou os princípios de
obediência paternal, não destruiu sua vida com meretrizes, porém
nutria sentimento de revolta dentro de si tão profundo que o impedia
de desfrutar dos momentos de alegria de sua própria casa. A casa do
pai neste caso se tornara um peso para o filho mais velho e não um
ambiente de desfrute da vida em abundância. A rigidez que ele próprio
estabeleceu para sua vida fazia-o encher-se de abundante prepotência
a arrogância, cumprir as normas de convívio familiar tornara-se um
fardo e não um prazer.
A
vida envolta nos afazeres diários fazia com que o filho mais velho
olhasse para aqueles que de igual modo não procedia como sendo
indignos; indignos de deleites da casa paterna, do aconchego do pai,
de receber perdão, de desfrutar do amor. O ficar em casa para o
filho mais velho não lhe permitiu vivenciar a casa, experimentar o
pai, desfrutar de sua posição de filho.
Os
sentimentos que o envolviam não permitiram que o tal filho,
avaliasse as circunstâncias e concluísse que o retorno do outro não
lhe arrancava os privilégios que eram seus por direito. Vivia em
casa, mas não desfrutava a casa com alegria, em suas palavras diz:
“... nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus
amigos” (Lc 15.29).
2
– Quando se abre mão do que não deveria.
“Vindo,
porém, esse teu filho...” (Lc 15.30a). Estas foram as palavras do
filho mais velho para seu pai em relação ao irmão mais jovem.
Palavras carregadas de desapegos, descompromissadas e sem afeição
fraternal uma demonstração forte de desligamento sentimental. Para
o irmão mais velho já não existia o mais novo, já não aguardava
o seu retorno, nem ao menos nutria esperança de revê-lo, abrira
mão, quando, não se sabe, mais abrira mão, abrira mão também do
pai que era o laço de ligação entre os filhos, nas palavras de
Nouwen, “Tornou-se um estranho em sua própria casa” (1997 p 90).
Há uma nítida impossibilidade de comunhão permeando o coração do
filho mais velho.
A
família sem dúvida é uma das maiores dádivas que Deus nos deu, o
fracasso dela reflete claramente o nosso fracasso ou vice e versa,
entre todas as lutas que travamos em nossa caminhada, lutar pela
família sempre vai valer apena. Abrir mão destes valores e
princípios, precisão está bem distante de cogitação. Ao ignorar
a alegria do pai, o filho mais velho lança fora valores que jamais
podem ser desperdiçados. A queixa em sua maioria impede o indivíduo
de alegra-se com o próximo, a desconfiança arranca a possibilidade
de alegria espontânea, este filho estava tomado tanto de queixas
contra seu pai, quanto de desconfianças em relação aos fatos que
aconteciam em sua casa durante sua ausência. O sentimento de
exclusão que invade o coração deste filho assalta-lhe a segurança
e confiança na família.
A
convivência com o medo, a insegurança o sentimento de exclusão são
agentes que nos forçam a abrir mão de princípios invioláveis.
Ceder a esses agentes pode com certeza nos conduzir ao fracasso, uma
vez dominados por tais agentes o resultado é o que aconteceu com o
filho mais velho “Ele se indignou e não queria entrar;” (Lc 15.
28a).
3-
Quando somos confrontados com a verdade desconhecida.
Para
o filho mais velho, sua vida era uma verdadeira clausura. Trabalho
sem desfrute. Somente a palavra do pai pode trazer à tona a verdade
submersa na lida diária daquele rapaz. As palavras proferidas a ele
revelam o quanto desconhecia seu estado de herdeiro direto. Diz o
pai: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é
teu.” (Lc 15.31).
A
verdade de que o campo onde ele prestava serviço lhe pertencia, a
casa em que entrara, a família, os bens de modo geral, traz às
claras a necessidade de reflexão por parte de cada indivíduo, filho
de Deus reconhecer a vida que em sua maioria fica encoberta pelos
labores diários e que somente confrontados pelo pai pode-se
conscientizar de sua posição como herdeiro. Por acaso não é isto
que as sagradas escrituras dizem sobre nós: “Ora, se somos filhos,
somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo;
se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados”. (Rm
8.17).
A
exposição da verdade está sempre diante de nós, assim com estava
diante do filho mais velho. A sua luz procura constantemente penetrar
nas partes mais escuras e sombrias de nossos corações, busca
esclarecer as dúvidas, inseguranças, revoltas e incertezas cravadas
pela vida. Tenta a todo custo nos persuadir de que o amor de Deus não
é dirigido apenas aos que nunca saíram de casa, mas também àqueles
que abandonaram o lar e como pródigo desperdiçaram todos os seus
bens.
Considerações
finais
Todo
ressentimento impede nossa visão de contemplarmos a beleza que
verdadeiramente temos como pessoa. E geralmente essa atitude nos leva
a tomarmos decisões que afetam nossas vidas durante toda a nossa
jornada, fazendo com que abramos mão daquilo que não devíamos.
Somente quando somos confrontados com a verdade é que podemos fazer
uma reflexão prudente de nossa posição como filhos de Deus.
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