Pr. Reginaldo de Matos Araújo.
Ministério bivocacional,
fazedores de tendas, dupla função, profissionais obreiros. Estas são algumas
expressões usadas para definir o obreiro que além das atividades ministeriais,
desenvolve alguma outra atividade profissional na sua comunidade.
Alguns tem
assumido na prática este posicionamento e até defendem tal ponto ministerial. Outros,
consideram uma afronta ao ministério pastoral tal atitude, para estes, aqueles
que exercem a função pastoral titularmente e exercem ainda, outra forma de
trabalho é considerado quase um herege.
É certo, porém,
que não se pode ignorar que a Bíblia apresenta obreiros desenvolvendo funções
ministeriais e pastorais de forma bivocacional, e diga-se, com muita
eficiência. Comentando sobre este assunto, Craig Ott & Gene Wilson[1] ratifica que “O apóstolo
Paulo trabalhou literalmente como um fazedor de tendas. Os missionários
morávios – a maior força missionária de seu tempo – foram todos bivocacionados
(Langton 1956; Ward 1992). Hoje, fazer tendas tem se tornado um fator significativo
em missões, especialmente em locais de acesso criativo, nos quais os
missionários tradicionais não conseguem vistos de permanência”.
De repente,
alguém possa alegar que isso funciona muito bem para missões, mas, não para o
pastorei de igrejas estabelecidas. A afirmativa pode ser verídica, entretanto,
precisamos compreender, que, em se tratando de competências, o pastor ou o
missionário tem as mesmas responsabilidades diante de Deus. Assim sendo, não se
pode preterir um ministério e dar maior ênfase a outro.
Em tempos que
tanto se fala em plantação de igrejas, percebe-se que um dos fatores que tem se
tornado um grande entrave, diz respeito a sustento financeiro. Como manter uma
estrutura pastoral para plantação quando as igrejas em sua maioria (sendo
pequenas ou grandes) encontram-se em grandes desafios para manter suas próprias
estruturas?
Partindo deste
pressuposto, quero no presente artigo, defender a ideia de um ministério
pastoral bivocacional, tenho completa convicção que não teremos unanimidade no
tema, todavia, colocamos aqui um posicionamento que entendemos ser coerente. Obviamente
que seguimos o raciocínio de alguns escritores para fundamentar nosso texto.
1 – Se o ministério bivocacional pode ser usado nos programas missionários, também pode ser usado em plantação e revitalização de igrejas locais.
Para Craig Ott
& Gene Wilson, “A plantação de igrejas bivocacional é fundamental nas
doutrinas do sacerdócio, ministério e exercício dos dons de todos os cristãos e
se reflete na prática do Novo Testamento. Os movimentos de mobilização de
leigos promovem o avanço da Grande Comissão e permitem que os pastores teologicamente
treinados retornem à função de capacitadores descritas em Efésios 4.11-13. ”
2 – O ministério bivocacional aproxima o pastor da sociedade e de seu campo de trabalho.
Christian A. Schwarz[2] declara que quanto mais
tempo de vida cristã e de igreja a pessoa tem, menos contato ela tem com os de
fora. O mais curioso disso, acontece quando olhamos o desenho que ele coloca em
sua pirâmide de contatos, o pastor, encontra-se no patamar mais alto, ou seja,
mais distante da comunidade não cristã.
A grande
maioria dos relacionamentos pastorais em sua comunidade se dar com os cristãos
da igreja que pastoreia e cristãos da cidade. O ministério bivocacional produz
esta oportunidade evangelística para o pastor. Ali, o pastor bivocacionado terá
uma oportunidade de contato direto com o não cristão, podendo em tempo oportuno
desenvolver seu trabalho pastoral na comunidade.
3 – O ministério bivocacional viabiliza a questão do sustento pastoral.
Em tempos de
crise de manutenção pastoral para uma grande maioria, onde o poder de compra é absorvido
imediatamente dos proventos pastorais, onde falar de aumento de prebenda muitas
vezes é uma afronta aos ministérios locais e o pastor pode ser taxado como
mercenário.
Sabendo ainda,
que a família pastoral tem as mesmas necessidades das demais famílias, se faz
necessário uma agregação financeira para estabilizar as finanças e proporcionar
ao pastor e família uma estadia compatível com as demandas decorrentes do dia a
dia da vida citadina.
Uma atividade
profissional pode proporcionar isso ao pastoreio e facilitar um projeto de
plantação. Ou cooperar na restauração de uma igreja em declínio.
4 - O ministério bivocacional permite desenvolver um pastorei descentralizador.
Uma grande
dificuldade encontrada por pastores de tempo integral ou não, é, fazer com que
a igreja se envolva no processo de trabalho diário e desenvolvimento da igreja
local.
De acordo com Rick
Warren apud Dennis Bickers[3], “cinquenta por cento dos
membros de todas as igrejas não se interessam em servir em nenhuma função”, o
desafio aqui é elaborar um sistema intencional para mobilizar e apoiar o
serviço dos membros nas tarefas diárias da igreja local.
O pastor
bivocacional, vai focar seus esforços no treinamento e equipamento dos membros
para desenvolverem o trabalho do Senhor em equipe e não de forma solitária. Geralmente,
quando a igreja já recebe o pastor consciente de suas atividades extra igreja,
ela é compreensiva para com ele. Outra realidade, é que, o pastor pode cobrar
de seus líderes com conhecimento de causa, uma vez que, também lida e conhece
as labutas diárias das atividades não ligadas ao mundo eclesiástico.
É interessante
destacar, que assim como em todo empreendimento que desenvolvemos, existe dois
lados. Aqui não é diferente. Existe perigos que rondam o pastor bivocacional.
1 - O perigo de servi a dois ou mais senhores: Para Craig Ott & Gene Wilson[4], “A preocupação imediata se torna como administrar efetivamente duas grandes vocações – mais o casamento e a família em muitos casos – e as múltiplas expectativas que vem com elas”.
O cuidado
nestes casos precisa ser redobrado, saber administrar o descanso, períodos
sabáticos, lidar com a questão da administração do tempo se torna algo
indispensável. Aqui é sábio escutarmos Henry e Richard Blackaby apud Dennis Bickers:[5]
Os líderes mais ineficientes e improdutivos têm tanto tempo quanto os líderes que fizeram história. Cada um é constrangido pela necessidade de dormir, comer, exercitar-se e relacionar-se com a família. Todos enfrentam questões financeiras, circunstâncias imprevistas e pressões diárias. A diferença é que os líderes sábios recusam permitir que as exigências da vida controlem a agenda ou as prioridades. Os líderes insensatos sucumbem diante das pressões irrelevantes e tentações insignificantes que os cercam e nunca realizam tudo que Deus tem para eles. Os grandes líderes não permitem que as atividades da vida ou as muitas responsabilidades os subjuguem. Mais exatamente, eles se tornam senhores de suas agendas cheias através de esforço determinado e consciencioso.
2 – Críticas severas de colegas, uma ameaça a carreira ministerial.
De acordo com Craig
Ott & Gene Wilson[6], o obreiro bivocacional tem
sua motivação prejudicada quando é tratado por seus colegas como um obreiro de
segunda classe. Com isso, negando-lhe respeito, consideração e reconhecimento. Sendo
assim, o ministro bivocacional precisa ter convicção de seu chamado e
defende-lo, diante de qualquer um que lhe peça explicações sobre sua vocação.
O ministro
bivocacional não pode estar no ministério só por conveniência, mas sim, por
certeza do chamado, dessa forma, desenvolverá com eficiência a obra que lhe foi
entregue a fazer.
Considerações
Diante do
exposto, resta atentar para alguns conselhos. Se deseja desenvolver um
ministério bivocacional, prepare-se bastante, este é um ministério para líderes
fortes, determinados, não acomodados, exige coragem, saída da zona de conforto,
flexibilidade, habilidade para múltiplas tarefas.
Entenda que
não é qualquer trabalho que pode ser feito enquanto desenvolve os serviços
ministeriais, saiba ser coerente com profissão e ministério, não vá apenas
visando lucro.
Tenha um
propósito claro ao iniciar um ministério bivocacional. Avalie sua chamada,
observe se isso não será um entrave em sua vida ministerial, avalie sua
capacidade resiliente, não faça no impulso ou por questões puramente egoísta.
Uma vez
consciente de sua vocação, não tenha medo, siga em frente, avalie o tempo e
aprenda a ouvir a Deus, cuidado para não sacrificar o desnecessário. A chamada
de Deus é multiforme, assim como a sua graça sobre nós.
18-01-2019.
Muito bom Pr Reginaldo!
ResponderExcluirUltimamente tenho pensado que o melhor para o campo missionário e para igreja pequenas, sobretudo no interior, é o pastor que exerce um ministério bivocacional.
Hoje estou trabalhando em uma plantação de igreja e estou partindo para este ministério bivocacional. A grande dificuldade é que a minha geração foi doutrinada de que você deveria ser de tempo integral, sem exceção. E aí vejo dois problemas:
1. o jovem ser levado a deixar tudo, até mesmo o estudo secular superior, para ir para o seminário;
2. não consolidar uma profissão ou o desenvolvimento de uma aptidão para exercer também como ministério.
você tem toda a razão meu companheiro.Ponto interessante esse que destacou:"2. não consolidar uma profissão ou o desenvolvimento de uma aptidão para exercer também como ministério." isso tem se mostrado trágico na vida de muitos.
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