quinta-feira, 28 de abril de 2016

RESENHA - Dez erros que um líder não pode cometer

RESENHA
Reginaldo de Matos Araújo*
FINZEL, Hans. Dez erros que um líder não pode cometer. Trad. Aparecida Araújo dos Santos. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.




Com dedicação a seus quatro filhos, Mark, Jeremy, Cambria e Andrew, Hans Finzel dá o pontapé inicial para esta obra exuberante. O escritor é um renomado especialista e consultor na área de liderança. Atualmente é presidente e CEO de WorldVenture, uma organização americana voltada para o desenvolvimento mundial de líderes, que possui uma equipe de 600 missionários espalhados por 65 países. Reconhecidamente, é considerado um líder entre líderes, com uma vasta experiência com mais de 25 anos de trabalho em organizações sem fins lucrativos, nos mais variados contextos. Hans e sua esposa Donna viveram 10 anos em Viena, envolvidos com o treinamento de líder por todo o leste europeu, atrás da cortina de ferro, antes da queda do regime comunista.
Na página dedicada aos agradecimentos, Hans relembra seu desempenho como líder desde sua infância. Recorda ainda o fato de sempre está fugindo dos treinamentos para capacitação de liderança. “Durante duas décadas seguintes de experiência como líder, eu sempre arrumava uma maneira de me ver livre de todo o treinamento formal naquela área,” (p.09) afirma Finzel. Entretanto, agradece a Sam Metcalf, presidente da Church Ressource Ministries, de Fullerton, na Califórnia o qual se tornou um de seus orientadores. Agradece ainda a Bob Clinton, personalidade ilustre que o orientou em seus estudos do Doutorado. Reconhece também “o incrível apoio” (p. 10) de sua esposa Donna. “Sou muito grato a Donna, que me permitiu ficar tantas noites e fins de semana fora de casa para completar este projeto de tanta importância para mim. ... tudo que aprendi ou fiz de valor nesses anos, partilho com a grande esposa que Deus, por sua graça, me deu.” (p. 10).
A introdução do livro é feita por meio de relatos das circunstâncias que conduziram à posição de liderança ocupada pelo autor. É relatada ainda, parte de suas experiências pessoais como líder, tanto o fracasso como o sucesso. Em rápidas palavras é apresentado que “O propósito deste livro não é falar a respeito da escassez de líderes, mas observar o que leva um bom líder ao fracasso, ou ainda o que deve ser evitado, caso se deseje ajudar a preencher as lacunas e re-aplainar a liderança em crise.”(p. 12).
Primeiramente, o livro apresenta a Atitude Líder-Liderado, como sendo a dificuldade nº 1 de liderança. Para Hans, “A abordagem líder-liderado na liderança está baseada no modelo militar de se gritar as ordens aos fracos subalternos”. (p.23). Para ele, esse modelo é resultado do uso exagerado do poder e de falta de conhecimento. É ainda muito fácil de ser praticado por ser resultado de uma reação em cadeia. No capitulo é discorrido sobre as razões que levam líderes a aderir a esse tipo de liderança. Diante do exposto o escritor contrapõe novos modelos de lideranças que trazem uma abordagem confrontativa com o formato líder-liderado onde usa como pano de fundo e exemplo o maior de todos os líderes, Jesus Cristo. Discorrendo sobre João 13.1 apresenta o modelo líder servo como aquele a ser seguido.
No capitulo dois, o assunto em pauta é a valorização da rotina de trabalho em detrimento do pessoal. Como de costume o escritor trás ricas experiências pessoais para servirem de modelo ao tema em pauta. A tônica de Finzel neste capitulo está direcionada para a liderança voltada para o trabalho, onde segundo ele, se um líder não tem “... a saudável ênfase nas pessoas, na verdade não estamos executando nada”, uma vez que “Liderança é basicamente um negócio com pessoas.”(p.41). O fato de contestar este formato de liderança consiste basicamente em saber que “... a essência da liderança é influenciar as pessoas” (p. 44) e isso só é possível se existir um contato direto com elas. Para Hans, as pessoas precisam ser vistas como oportunidades e não interrupções, o que não acontece em um formato de liderança voltada para o trabalho.
O capitulo três, vai tratar da Ausência de Incentivo. O enfoque está no fato de que não é só aumento salarial que estimula o liderado, mas gestos básicos de cordialidade são estímulos válidos. Ao falar sobre a importância do incentivo nas relações, Finzel declara que “Os diferentes tipos de pessoas que trabalham com e por você exigirão diferentes doses e tipos de incentivo” (p. 55). Para isso ele descreve um quadro o qual denomina de ‘O Continuum do Incentivo’(p. 55). Partido deste ponto vai descrever os vários tipos de incentivo necessários nesse continuum. Para fundamentar sua argumentação o escritor faz uso dos escritos bíblicos principalmente 1 Tessalonicenses 5.14.
Chegando ao capitulo quatro a abordagem é embasada no tema: Não Há Espaço Para os Não-Conformistas? Eles nos trazem o futuro! “As organizações têm o hábito desagradável de se tornarem instituições. E instituições têm a grande tendência de se enfraquecerem, chegando à irrelevância. Os movimentos tornam-se monumentos. A inspiração torna-se monumentos. A inspiração torna-se instituição. A tragédia dessa história sempre repetida é que, quanto mais velha fica a organização, menos espaços há para os talentosos da empresa.” (p. 63). Com esse prisma, Hans trás o quadro com “Os Ciclos de Vida das Organizações” (p. 64). Apresentando cada estágio desde o nascimento até morte de uma organização. Destaca ainda alguns nomes não conformistas da história, como Martinho Lutero, Stephen Jobs dentre outros. Observa também que a bíblia está cheia desse tipo de pessoas. Declara que se comete grande erro quando se ofuscam esses profissionais, colocando-os sob o jugo de infindáveis comissões e procedimentos de rotinas de trabalho.
O capitulo cinco, A Ditadura na Tomada de Decisões é uma critica severa ao modelo de liderança ditatorial, onde “Eles acham que, quanto maior forem mais saberão e mais deverão controlar os outros.”(p. 81). O que Finzel propõe para resolver tão questão é um modelo de liderança onde os liderados são ouvidos, uma vez que as melhores ideias borbulham de entre eles. Partindo desse principio ele apresenta o modelo de uma liderança facilitadora. Trás uma variedade de quadros gráficos onde representa vários modelos organizacionais e apresenta algumas alternativas para uma tomada de decisão, onde as responsabilidades não sejam totalmente depositadas nas costas do líder. Fala ainda de valores que ajudam na tomada de decisões e relata ainda algumas experiências, deixando dicas de liderança em equipe.
Ao entrar no capitulo seis, a abordagem é sobre o fracasso da liderança na delegação de tarefas, e Hans atribuem isso ao que ele denomina de “Delegação Suja”. Pelos menos seis razões são apresentadas à falta de delegação, 1) medo de perder a autoridade, 2) medo de que o trabalho seja feito precariamente, 3) medo de que o trabalho seja melhor, 4) indisposição de gastar o tempo necessário, 5) medo de depender dos outros e 6) falta de treinamento e experiência positiva. Para Finzel o grande pecado consiste em não “dar liberdade às pessoas para que elas decidam como os serviços serão feitos.” (p. 99). Apresenta ainda alguns estilos de supervisão baseados nos diferentes tipos de seguidores.
O Caos na Comunicação, esse é o titulo do capitulo sete, abordando as implicações da comunicação, Finzel, usando-se de passagens pessoais retrata a importância de uma comunicação eficiente, bem como os prejuízos e malefícios que ela pode trazer sendo realizada de forma incoerente. Retomando, de forma mais sucinta o quadro, “Os Ciclos da Vida das Organizações” (p. 112) ele expõe a trajetória das organizações do nascimento a maturidade. Fala da necessidade de sair da comunicação oral para a formal na medida em que a organização vai alcançando crescimento. Destaca algumas razões das dificuldades dos líderes em ouvir, e enfatiza que líder eficiente é líder que ouve a organização.
O antepenúltimo capitulo intitulado “Deixando de Perceber as Pistas da Cultura Coletiva” trata da questão que o autor define como sendo em uma organização “... a maneira como os trabalhadores interno se comportam, baseados nos valores e nas tradições de grupos que conservam” (p. 131). O texto trata das dificuldades e necessidades que trabalhadores e líderes em geral têm de adaptar-se com a cultura organizacional. Para Hans, a cultura se manifesta, em um novo casamento, nova igreja, nova cidade, novo emprego, novo pastor, chefe, geração, conflito, preferências, estilo de vida e estilos de ministérios. Neste capitulo é dada uma grande ênfase as questões eclesiásticas, inclusive com citações de exemplos da estratégia usada pela igreja de Saddleback. Neste comentário apresenta a diferença das organizações e líderes cristãos. Encontrando ainda, tempo para apresentar tipos de reações ao conflito cultural.
O capitulo nove, trabalha a questão da sucessão na liderança e apresenta vários pontos que revelam o porquê de em grande parte estas sucessões não acontecerem de forma proveitosa. Com exemplos extraídos de sua vasta experiência como líder o escritor apresenta alguns casos onde não foi possível a realização de uma transição bem sucedida, bem como apresenta casos de sucesso em sua própria vivência. E a máxima do assunto é: “Sucesso sem sucessores é fracasso” (p. 156). Para Finzel “a única maneira de garantir que seu grupo não escorregue para a institucionalização, calcificação e morte é a renovação constante, como sangue novo, na forma de novos líderes.” Discorre sobre as barreiras existentes para os sucessores bem-sucedidos e apresenta alguns pontos que mostram por que os líderes não conseguem liberar, ou seja, abrir mão de sua posição de liderança. Através de um quadro intitulado “modelo constelação” (p. 163), ele trás orientações de como o líder pode se sair bem em sua liderança. Como dica para terminar bem um processo de liderança é abordado os exemplos de líderes que vão de Moisés e Timóteo.
E por fim no capitulo dez, Hans Finzel direciona seu olhar para o futuro, repreende as atitudes de ignorar-se esta realidade que chegará e convoca o leitor para observar que “O futuro está avançando em nossa direção e a nossa frente com terrível poder, o qual nenhum homem pode deter,...” (p. 178). Fala do desejo dos trabalhadores das organizações atuais em participarem das decisões que afetam suas vidas. Destacando a necessidade urgente de mudanças em alguns modelos de liderança existente, com a finalidade de não se tornarem inaplicáveis e obsoletos. Faz menção de líderes que tinha a visão no futuro, citando como exemplo Walt Disney que influenciou toda a América do Norte. Encerra o capitulo, apresentando a Bíblia e afirmando que em todo o seu conteúdo há apontamentos para o futuro, diz Finzel, “a bíblia tem muito que dizer sobre o futuro; na verdade, ela é um livro para futuristas”. (p. 185) em tempo, apresenta alguns pontos para reflexão que formam uma construção para o futuro.
É verdade que existe uma gama de escritos destinados à liderança, poucos, porém são tão objetivos e claro como este de Hans Finzel. O livro consiste em um verdadeiro manual de como proceder de maneira prudente e ao mesmo tempo ousadamente. Destaca-se pela experiência vivenciada do escritor, dando assim, uma tônica mais vibrante ao escrito. Mesmo passando vários exemplos de experiências vividas em organizações paraeclesiásticas, a maioria de seus ensinamentos podem ser usados perfeitamente por líderes que trabalham diretamente no processo litúrgico e administrativos de igrejas.
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* Pastor em tempo integral. Professor de teologia. Pós graduado em Docência Universitária. Mestrando em Ministério.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

DESCONHECENDO O QUE POSSUI


DESCONHECENDO O QUE POSSUI
“Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. [...] Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém o pai procurava conciliá-lo.” (Lucas 15.25,28).
1 – Quando o ressentimento toma posse da capacidade avaliativa de quem somos.
Para o escritor Henri Nouwen em seu livro: A Volta do Filho Pródigo. Em algum momento da vida nos identificamos com o filho mais velho da parábola relatada por Jesus. Expondo sua própria experiência diz: “Nunca saí de casa, nem desperdicei meu tempo e dinheiro em prazeres do sexo; jamais me perdi em ‘devassidão ou embriaguez’”. Entretanto, prossegue Nouwen, “Enxerguei o meu ciúme, raiva, suscetibilidade, obstinação, mau humor e, acima de tudo, meu farisaísmo sutil. Vi o quanto meu pensar e agir estavam imbuídos de ressentimento”. (NOUWEN, 1997 p 28).
O filho mais velho jamais saiu de casa, não violou os princípios de obediência paternal, não destruiu sua vida com meretrizes, porém nutria sentimento de revolta dentro de si tão profundo que o impedia de desfrutar dos momentos de alegria de sua própria casa. A casa do pai neste caso se tornara um peso para o filho mais velho e não um ambiente de desfrute da vida em abundância. A rigidez que ele próprio estabeleceu para sua vida fazia-o encher-se de abundante prepotência a arrogância, cumprir as normas de convívio familiar tornara-se um fardo e não um prazer.
A vida envolta nos afazeres diários fazia com que o filho mais velho olhasse para aqueles que de igual modo não procedia como sendo indignos; indignos de deleites da casa paterna, do aconchego do pai, de receber perdão, de desfrutar do amor. O ficar em casa para o filho mais velho não lhe permitiu vivenciar a casa, experimentar o pai, desfrutar de sua posição de filho.
Os sentimentos que o envolviam não permitiram que o tal filho, avaliasse as circunstâncias e concluísse que o retorno do outro não lhe arrancava os privilégios que eram seus por direito. Vivia em casa, mas não desfrutava a casa com alegria, em suas palavras diz: “... nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos” (Lc 15.29).
2 – Quando se abre mão do que não deveria.
“Vindo, porém, esse teu filho...” (Lc 15.30a). Estas foram as palavras do filho mais velho para seu pai em relação ao irmão mais jovem. Palavras carregadas de desapegos, descompromissadas e sem afeição fraternal uma demonstração forte de desligamento sentimental. Para o irmão mais velho já não existia o mais novo, já não aguardava o seu retorno, nem ao menos nutria esperança de revê-lo, abrira mão, quando, não se sabe, mais abrira mão, abrira mão também do pai que era o laço de ligação entre os filhos, nas palavras de Nouwen, “Tornou-se um estranho em sua própria casa” (1997 p 90). Há uma nítida impossibilidade de comunhão permeando o coração do filho mais velho.
A família sem dúvida é uma das maiores dádivas que Deus nos deu, o fracasso dela reflete claramente o nosso fracasso ou vice e versa, entre todas as lutas que travamos em nossa caminhada, lutar pela família sempre vai valer apena. Abrir mão destes valores e princípios, precisão está bem distante de cogitação. Ao ignorar a alegria do pai, o filho mais velho lança fora valores que jamais podem ser desperdiçados. A queixa em sua maioria impede o indivíduo de alegra-se com o próximo, a desconfiança arranca a possibilidade de alegria espontânea, este filho estava tomado tanto de queixas contra seu pai, quanto de desconfianças em relação aos fatos que aconteciam em sua casa durante sua ausência. O sentimento de exclusão que invade o coração deste filho assalta-lhe a segurança e confiança na família.
A convivência com o medo, a insegurança o sentimento de exclusão são agentes que nos forçam a abrir mão de princípios invioláveis. Ceder a esses agentes pode com certeza nos conduzir ao fracasso, uma vez dominados por tais agentes o resultado é o que aconteceu com o filho mais velho “Ele se indignou e não queria entrar;” (Lc 15. 28a).
3- Quando somos confrontados com a verdade desconhecida.
Para o filho mais velho, sua vida era uma verdadeira clausura. Trabalho sem desfrute. Somente a palavra do pai pode trazer à tona a verdade submersa na lida diária daquele rapaz. As palavras proferidas a ele revelam o quanto desconhecia seu estado de herdeiro direto. Diz o pai: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu.” (Lc 15.31).
A verdade de que o campo onde ele prestava serviço lhe pertencia, a casa em que entrara, a família, os bens de modo geral, traz às claras a necessidade de reflexão por parte de cada indivíduo, filho de Deus reconhecer a vida que em sua maioria fica encoberta pelos labores diários e que somente confrontados pelo pai pode-se conscientizar de sua posição como herdeiro. Por acaso não é isto que as sagradas escrituras dizem sobre nós: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados”. (Rm 8.17).
A exposição da verdade está sempre diante de nós, assim com estava diante do filho mais velho. A sua luz procura constantemente penetrar nas partes mais escuras e sombrias de nossos corações, busca esclarecer as dúvidas, inseguranças, revoltas e incertezas cravadas pela vida. Tenta a todo custo nos persuadir de que o amor de Deus não é dirigido apenas aos que nunca saíram de casa, mas também àqueles que abandonaram o lar e como pródigo desperdiçaram todos os seus bens.
Considerações finais
Todo ressentimento impede nossa visão de contemplarmos a beleza que verdadeiramente temos como pessoa. E geralmente essa atitude nos leva a tomarmos decisões que afetam nossas vidas durante toda a nossa jornada, fazendo com que abramos mão daquilo que não devíamos. Somente quando somos confrontados com a verdade é que podemos fazer uma reflexão prudente de nossa posição como filhos de Deus.

Isaías e o seu tempo, nós e nosso tempo. Como vamos reagir?

Reginaldo de Matos Araújo [1] 31 de Dezembro, 2022.   No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto...