segunda-feira, 1 de abril de 2019

O Pastoreio e o exercício de outra função. (1ª parte)


“Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos; Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutamos para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus. ” (1Ts 2.7,9 RA).

 Pr. Reginaldo de Matos Araújo


Já muito se debateu a profissionalização do sacerdócio, ministério, como queira chamar. No entanto, a resposta óbvia e bíblica é que ministério é chamado divino para atender aos propósitos divinos e não está atrelado a profissionalização.
Todavia, ao longo dos tempos foi ficando cada vez mais enraizado no consciente popular e ministerial a ideia de profissionalização do ministério da evangelização. Com isso, toda a responsabilidade de pregação do evangelho, foi aos poucos sendo repassada para os “profissionais” do Evangelho, criando assim, uma comunidade irresponsável no quesito propagação das boas novas. Afinal de contas, dizem eles, quem recebe para isso é o pastor.
A ideia de ministério integral, sob uma perspectiva que o pastor não pode exercer outra função tem aos poucos cedido lugar a novos modelos de pastoreio, mesmo que não abertamente. Existem diversidades de formas nas quais o pastor tem encontrado maneiras para manter-se no ministério e outra atividade, sem com isso ser relaxado com as coisas de Deus. Em sua maioria, o serviço está ligado ao professorado ou a esposa tem um trabalho fora e ele cuida da casa enquanto desenvolve algum serviço extra e assim por diante. De forma que, veladamente, se desenvolve a bivocacionalidade.
É verdade que as Escrituras defendem uma postura de dedicação integral ao ministério, mas, o que significa dedicação integral? Em Atos 6.4 está escrito: “e, quanto a nós, nos consagraremos a oração e ao ministério da palavra. ” Esta dedicação, está relacionada a tempo, qualidade ou esmero no ensino? Entende-se primeiramente que é ao tempo, mas, não é um tempo qualquer, a descrição da palavra “προσκαρτερεω proskartereo” é apresentado como:[1]
1) aderir a alguém, ser seu partidário, ser dedicado ou fiel a alguém; 2) ser constantemente atento a, dar constante cuidado a algo; 3) continuar todo o tempo num lugar; 4) perseverar e não desfalecer; 5) mostrar-se corajoso para; 6) estar em constante prontidão para alguém, servir constantemente.
Sendo assim, tempo sem qualidade também não resolve o problema da dedicação. De forma que, se nos prendermos apenas no fato da exclusividade do ministério, alegando que exclusividade é não desenvolver outra atividade, podemos incorrer na negligencia da qualidade do ensino. Desta forma, podemos ser integrais quando nos esmeramos no labor da pregação e oração. Não integrais, quando fazemos relaxadamente a obra de Deus, quando não fazemos dela prioridade. (Mt 6.33).

Marcas do ministério integral.
O ministério integral não é aquele onde só se prega e ora. Mas sim, aquele onde é priorizada na vida do obreiro a pregação e a oração em todo o tempo e lugar. Aquele onde tem a primazia de seu tempo. O melhor de si. Quando o obreiro chamado por Deus compreende que sua principal função e razão de existência é a proclamação do evangelho, todo o seu proceder na vida tem propósito nesta direção, todas as suas ações visam a divulgação da palavra de Deus e o cuidado para com o seu povo.
É possível, desenvolver um ministério “integral” totalmente desassociado do plano de Deus em relação a sua igreja. Um ministério executivo de gabinete, um pastor profissional, um servo do oficio e não de Cristo, um funcionário da igreja e não um pregador do evangelho. Estas são maneiras de conduzir o rebanho profissionalmente e não vocacionalmente.
O ministério pastoral integral, por outro lado, consegue interagir igreja e sociedade, conhece os conflitos existente no cotidiano dos membros e de certa forma envolve a igreja no processo de transformação do meio. Procura gerar uma igreja capaz de ver a realidade e necessidade de crescimento e desenvolvimento integral. Um ministério integral, envolve a igreja na formação de outros ministérios, produz movimento para os lados e não apenas para cima.
Na medida em que o obreiro, dedica-se a outra função, cujos propósitos fujam da premissa de proporcionar meios para a manutenção e melhor propagação do evangelho, ele foge também do propósito inicial de chamado e vocação. É notório que apesar de ser tentador, não fomos chamados para sermos ricos, entendendo riqueza sob a perspectiva deste mundo (1Tm 6.9,10). Fomos chamados para a pregação do evangelho (1 Co 9.16).
O ministério onde exercemos outra função só pode ser justificado quando visa proporcionar melhores condições para a pregação do evangelho. Sendo assim, é extremamente válido e aceito a ideia de exercer outra função enquanto ela tem o propósito de sustentar o pregador para a pregação. Em tempos de crise financeira, de avareza e negligencia de membros para com suas responsabilidades cristãs, fica cada vez mais evidente a necessidade de o próprio obreiro levantar seu sustento, que seja na totalidade deste ou em partes.

Razões para o exercício de outra função enquanto pastoreia
Como falado anteriormente, o exercício de outra função enquanto se pastoreia é justificável, mediante algumas observações.
Plantio de igreja – em tempos onde tanto se fala em plantio e revitalização de igrejas, pouco se fala em como se sustenta o pastor que irá desenvolver tais funções. Nestas circunstâncias, nada mais justo que selecionar homens vocacionados e dispostos a desenvolverem o trabalho integral de pregação do evangelho enquanto levanta parte de seu sustento.
Alguns pontos precisam ser observados ao desenvolver este trabalho de plantação ou revitalização exercendo outra função:
a. O pastor plantador precisa tomar consciência de ensinar a igreja que ela tem responsabilidades para com a proclamação do evangelho, dentre estas, encontra-se o sustento de pastores em dedicação exclusiva.
b. É preciso ter cuidado ainda, para não formar uma igreja dependente, onde não cresce em visão e continua por muitos anos sendo dependente de igreja mãe ou de pastores que levantem seu próprio sustento.
c. Ensinar a igreja sob suas responsabilidades com dízimos e ofertas é de fundamental importância para o desenvolvimento sadio da igreja. Uma igreja que não aprende a ofertar nem ouvir pregações sobre o tema se torna uma igreja doente. Não são poucos os pastores que não falam sobre dízimos e ofertas em suas pregações (enquanto outros os fazem exageradamente), as razões são as mais diversas. Hora por não depender da igreja financeiramente, hora por não ele mesmo não ter convicção sobre o assunto, sendo neste quesito infiel.
d. Mesmo exercendo outra função e tendo o seu sustento, o pastor precisa receber algo da igreja para que ela aprenda a responsabilidade e cuidado para com seu pastor, não são poucas as igrejas que não se preocupam com o sustento pastoral. Mesmo que o pastor, devolva em forma de oferta o seu sustento caso não precise, mas, a igreja tem que ter esta consciência desde sua fundação.


[1] James Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (Sociedade Bíblica do Brasil, 2002). Apud Pr. Franck Neuwirth em conversas no whatsapp.
 


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