“Embora pudéssemos, como enviados
de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia nos tornamos carinhosos entre
vós, qual ama que acaricia os próprios filhos; Porque, vos recordais, irmãos,
do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutamos para não vivermos à
custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus. ” (1Ts 2.7,9 RA).
Pr. Reginaldo de Matos Araújo
Já muito se
debateu a profissionalização do sacerdócio, ministério, como queira chamar. No entanto,
a resposta óbvia e bíblica é que ministério é chamado divino para atender aos
propósitos divinos e não está atrelado a profissionalização.
Todavia, ao
longo dos tempos foi ficando cada vez mais enraizado no consciente popular e
ministerial a ideia de profissionalização do ministério da evangelização. Com isso,
toda a responsabilidade de pregação do evangelho, foi aos poucos sendo
repassada para os “profissionais” do Evangelho, criando assim, uma comunidade irresponsável
no quesito propagação das boas novas. Afinal de contas, dizem eles, quem recebe
para isso é o pastor.
A ideia de
ministério integral, sob uma perspectiva que o pastor não pode exercer outra função
tem aos poucos cedido lugar a novos modelos de pastoreio, mesmo que não abertamente. Existem diversidades de formas
nas quais o pastor tem encontrado maneiras para manter-se no ministério e outra atividade, sem com isso ser relaxado com as coisas de Deus. Em sua maioria, o
serviço está ligado ao professorado ou a esposa tem um trabalho fora e ele
cuida da casa enquanto desenvolve algum serviço extra e assim por diante. De forma que, veladamente, se desenvolve a
bivocacionalidade.
É verdade que as
Escrituras defendem uma postura de dedicação integral ao ministério, mas, o que
significa dedicação integral? Em Atos 6.4 está escrito: “e, quanto a nós, nos
consagraremos a oração e ao ministério da palavra. ” Esta dedicação, está
relacionada a tempo, qualidade ou esmero no ensino? Entende-se primeiramente
que é ao tempo, mas, não é um tempo qualquer, a descrição da palavra “προσκαρτερεω
proskartereo” é apresentado como:[1]
1) aderir a
alguém, ser seu partidário, ser dedicado ou fiel a alguém; 2) ser
constantemente atento a, dar constante cuidado a algo; 3) continuar todo o
tempo num lugar; 4) perseverar e não desfalecer; 5) mostrar-se corajoso para; 6)
estar em constante prontidão para alguém, servir constantemente.
Sendo assim, tempo
sem qualidade também não resolve o problema da dedicação. De forma que, se nos
prendermos apenas no fato da exclusividade do ministério, alegando que exclusividade
é não desenvolver outra atividade, podemos incorrer na negligencia da qualidade
do ensino. Desta forma, podemos ser integrais quando nos esmeramos no labor da pregação
e oração. Não integrais, quando fazemos relaxadamente a obra de Deus, quando não
fazemos dela prioridade. (Mt 6.33).
Marcas do ministério integral.
O ministério
integral não é aquele onde só se prega e ora. Mas sim, aquele onde é priorizada
na vida do obreiro a pregação e a oração em todo o tempo e lugar. Aquele onde
tem a primazia de seu tempo. O melhor de si. Quando o obreiro chamado por Deus
compreende que sua principal função e razão de existência é a proclamação do
evangelho, todo o seu proceder na vida tem propósito nesta direção, todas as
suas ações visam a divulgação da palavra de Deus e o cuidado para com o seu
povo.
É possível,
desenvolver um ministério “integral” totalmente desassociado do plano de Deus
em relação a sua igreja. Um ministério executivo de gabinete, um pastor
profissional, um servo do oficio e não de Cristo, um funcionário da igreja e
não um pregador do evangelho. Estas são maneiras de conduzir o rebanho profissionalmente
e não vocacionalmente.
O ministério pastoral
integral, por outro lado, consegue interagir igreja e sociedade, conhece os conflitos
existente no cotidiano dos membros e de certa forma envolve a igreja no
processo de transformação do meio. Procura gerar uma igreja capaz de ver a
realidade e necessidade de crescimento e desenvolvimento integral. Um ministério
integral, envolve a igreja na formação de outros ministérios, produz movimento para
os lados e não apenas para cima.
Na medida em
que o obreiro, dedica-se a outra função, cujos propósitos fujam da premissa de proporcionar
meios para a manutenção e melhor propagação do evangelho, ele foge também do
propósito inicial de chamado e vocação. É notório que apesar de ser tentador,
não fomos chamados para sermos ricos, entendendo riqueza sob a perspectiva
deste mundo (1Tm 6.9,10). Fomos chamados para a pregação do evangelho (1 Co
9.16).
O ministério
onde exercemos outra função só pode ser justificado quando visa proporcionar
melhores condições para a pregação do evangelho. Sendo assim, é extremamente
válido e aceito a ideia de exercer outra função enquanto ela tem o propósito de
sustentar o pregador para a pregação. Em tempos de crise financeira, de avareza
e negligencia de membros para com suas responsabilidades cristãs, fica cada vez
mais evidente a necessidade de o próprio obreiro levantar seu sustento, que
seja na totalidade deste ou em partes.
Razões para o exercício de outra função enquanto pastoreia
Como falado anteriormente,
o exercício de outra função enquanto se pastoreia é justificável, mediante
algumas observações.
Plantio de igreja – em tempos onde tanto se fala em plantio e
revitalização de igrejas, pouco se fala em como se sustenta o pastor que irá
desenvolver tais funções. Nestas circunstâncias, nada mais justo que selecionar
homens vocacionados e dispostos a desenvolverem o trabalho integral de pregação
do evangelho enquanto levanta parte de seu sustento.
Alguns pontos
precisam ser observados ao desenvolver este trabalho de plantação ou
revitalização exercendo outra função:
a. O pastor plantador precisa
tomar consciência de ensinar a igreja que ela tem responsabilidades para com a proclamação
do evangelho, dentre estas, encontra-se o sustento de pastores em dedicação exclusiva.
b. É preciso ter cuidado ainda, para
não formar uma igreja dependente, onde não cresce em visão e continua por
muitos anos sendo dependente de igreja mãe ou de pastores que levantem seu próprio
sustento.
c. Ensinar a igreja sob suas
responsabilidades com dízimos e ofertas é de fundamental importância para o
desenvolvimento sadio da igreja. Uma igreja que não aprende a ofertar nem ouvir
pregações sobre o tema se torna uma igreja doente. Não são poucos os pastores
que não falam sobre dízimos e ofertas em suas pregações (enquanto outros os
fazem exageradamente), as razões são as mais diversas. Hora por não depender da
igreja financeiramente, hora por não ele mesmo não ter convicção sobre o
assunto, sendo neste quesito infiel.
d. Mesmo exercendo outra função e
tendo o seu sustento, o pastor precisa receber algo da igreja para que ela
aprenda a responsabilidade e cuidado para com seu pastor, não são poucas as
igrejas que não se preocupam com o sustento pastoral. Mesmo que o pastor,
devolva em forma de oferta o seu sustento caso não precise, mas, a igreja tem
que ter esta consciência desde sua fundação.
[1]
James Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (Sociedade Bíblica do
Brasil, 2002). Apud Pr. Franck Neuwirth em conversas no whatsapp.