sábado, 2 de fevereiro de 2019

Vocação pastoral para hoje


 
Reginaldo de Matos Araújo.[1]
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; ” Efésios 4:11,12[2]

“Ser pastor sem vocação é como ser membro professo e batizado sem conversão. Nos dois casos há um nome, e nada mais. (SPURGEON) ”[3]
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Existe, não pequeno debate sobre a questão e posição pastoral nos dias presentes. Muito já se escreveu sobre a questão que diferencia o pastoreio das demais profissões, leis congressistas foram propostas, artigos escritos, livros, palestras e etc. mesmo assim, caso façamos a pergunta: O que é chamado pastoral? Para a igreja e pastores e busquemos honestamente na Bíblia Sagrada tal definição, perceberemos claramente que existe um desentoar nas referidas definições.
A “igreja” tem uma ideia sobre o papel pastoral e cobra do pastor, muitas vezes o que não lhe é competência, muitas das atividades que diz respeito a toda a igreja é cobrada por esta, como se fosse exclusividade pastoral, vendo no pastor, uma espécie de funcionário de alto escalão, “bem remunerado” e com uma carga horária relativamente baixa para os padrões de empresas atuais, afinal de contas, nem ponto o pastor bate. (Bem, até aonde conheço!)
Por outro lado, pastores veem na igreja uma oportunidade de manter seu sustento, emprego, status, e tantas outras “regalias”. Não aceitam a ideia de emprego, mas, vivem como se fossem patrões da igreja. Veem ali a possibilidade de resgatar todo o dinheiro investido nos anos de seminário, livros comprados e assim por diante.
A preocupação do presente artigo, gira em torno das questões: Sabemos de fato sobre nossa vocação pastoral para hoje? É verdade que os tempos mudaram, mas, e a vocação, o chamado de Deus é diferente hoje? Nos parecemos com os primeiros vocacionados por Cristo?
Spurgeon já alertava sobre isto quando respondeu à pergunta: Como pode o jovem saber se é vocacionado ou não? Ele responde:
É uma indagação ponderável, e desejo tratá-la mui solenemente. Oh, a divina orientação para fazê-lo! O fato de que centenas perderam o rumo e tropeçaram num púlpito, está patenteado tristemente nos ministérios infrutíferos e nas igrejas decadentes que nos cercam. Errar na vocação é terrível calamidade para o homem, e, para a igreja sobre a qual ele se impõe, seu erro envolve aflição das mais dolorosas. [...]. Quando penso no prejuízo, que por pouco não é infinito, que pode resultar do erro quanto à nossa vocação para o pastorado cristão, domina-me o temor de que algum de nós tenha sido negligente no exame de suas credenciais. Preferiria que vivêssemos em dúvida e nos examinássemos muitíssimas vezes, do que tornarmos empecilhos no ministério.[4]
Quando a Palavra de Deus não é nossa maior paixão no ministério pastoral, corremos o grande risco de estarmos na direção errada. Pastorear por dinheiro, falta de emprego ou qualquer outra razão que não seja consciência de sua vocação, é perda de tempo. Spurgeon ainda diz:
A Palavra de Deus deve ser como fogo em nossos ossos, do contrário, se nos aventurarmos no ministério, seremos infelizes nisso, seremos incapazes de suportar as diversas formas de abnegação que lhe são próprias, e prestaremos pouco serviço aqueles aos quais ministramos. Falo de formas de abnegação, e digo bem, pois o trabalho do verdadeiro pastor está repleto delas, e, se não amar a sua vocação, logo sucumbirá ou desistirá da luta, ou prosseguirá descontente, sob o peso de uma monotonia tão fastidiosa como a de um cavalo cego girando um moinho.[5]
A exposição das Escrituras à igreja, precisa abranger também a questão pastoral, muitas vezes se negligencia o falar sobre a própria vocação e se espera que a igreja aprenda sobre isso sozinha, ledo engano. A razão de muitas igrejas não compreenderem sobre a vocação pastoral é por não ouvir sobre este tema.
É tempo de treinarmos nossos jovens vocacionados em nossas próprias igrejas sobre o ministério pastoral. Assim, ao chegarem em nossos seminários possam compreender na prática o que é ser pastor e não apenas saber teoricamente sobre as funções pastorais.
É preciso voltar a cumprir a Bíblia, (leia 2 Tm 2.15...); outrossim, muitos obreiros iniciam seus estudos teológicos e desenvolvem muito bem a função acadêmica, mas, fracassam no pastoreio, a razão? Não foram antes experimentados em suas congregações locais, diz Paulo: “Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato. ” (3.10)
Ora, se para exercer a função diaconal, (que não foge muito da função pastoral no que diz respeito a servi a comunidade cristã) o obreiro precisava ser experimentado, quanto mais ao ministério pastoral, propriamente dito.
É tempo de revermos nossa vocação. É tempo de anunciar sobre a vocação pastoral e suas obrigações para a igreja e seus deveres para com ela. É tempo de entendermos que nosso chamado não difere do chamado dos Apóstolos, que nossa vocação é celestial e as razões não corroboram com os valores deste mundo, que os valores deste mundo não podem medir o chamado pastoral.
Que Deus tenha misericórdia de nós e sejamos despertos para a compreensão do chamado pastoral para hoje. Nada mede sua vocação, a não ser sua própria vocação, desenvolva-a intensamente.


[1] Pastor na Igreja Cristã Evangélica do Brasil.
[2] https://www.bibliaonline.com.br/acf/ef/4
[3] SPURGEON, C H. Lições a meus alunos, vl 2, PES, 1980, p32.
[4] Idem, p31,32
[5] Idem.

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