sábado, 31 de dezembro de 2022

Isaías e o seu tempo, nós e nosso tempo. Como vamos reagir?


Reginaldo de Matos Araújo[1]

31 de Dezembro, 2022.

 

No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos. Porém um dos serafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; E com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e expiado o teu pecado. Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim. Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado. Isaías 6:1-10

 

A vocação ou chamado de Isaías se deu de forma marcante, ele contempla Deus em sua glória e majestade sentado em seu trono e sua gloria enchendo todo o templo, a terra, o céu. Ao mesmo instante ele se depara com a glória e a santidade de Deus, percebe seu reconhecimento no mundo celestial e percebe ainda, que devido a santidade de Deus Ele é separado do mundo pecaminoso.

A conclusão de Isaías é aquela que todos nós devemos chegar quando entramos na presença de Deus. Somos pecadores e habitamos no meio de pecadores. Todavia, a santidade de Deus não serve para nos afastar dele, ao contrário, serve para nos aproximar. Na medida que reconhecemos sua pureza e nossa pecaminosidade, Ele está disposto a purificar por completo o ser humano.

A atitude de Isaías quando se deparou diante da santidade e sentiu seu interior ser tomado de terror, revelou também o estado de seu coração, ou seja, o desejo interno de purificação do pecado, não apenas o seu pecado, mas, o de todo o seu povo. Daí, sua expressão: “homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios.”

Conhecendo o coração de Isaías, Deus demonstra a ele o interesse de purificar seu pecado, aliviar sua alma e acalmar sua angústia, sem com isso arrancar sua vida e sem lhe tirar o prazer e satisfação de contemplar a gloria e formosura de Deus. A consciência de Isaías é de que seus lábios e do seu povo estão longe do propósito ideal de Deus para suas criaturas, que é a glorificação de seu santo nome, algo que ele percebe claramente na vida dos seres celestiais chamados de Serafins.

O versículo sete é crucial para expressar o propósito de Deus para com suas criaturas, “Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado.” A brasa tirada do altar é purificadora, é santificadora e prepara Isaías para estar diante do SENHOR e ao mesmo tempo ir às multidões levar a mensagem de purificação.

Agora, sentindo-se purificado, seu coração está disposto a compreender a mente de Deus, não é acaso que o texto bíblico de 1 Coríntios 2.16 declara que temos a mente de Cristo, ou seja, podemos compreender o desejo de Deus para com suas criaturas na medida que nos aproximamos dele em santidade e pureza de pecados.

O propósito de Deus está em plena evidencia, quando Isaías ouve o clamor “A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Não houve dúvida em seu coração de que o mais certo a fazer era colocar-se a disposição do serviço do SENHOR. Observe que no princípio ele encontrava-se amedrontado só de estar diante de Deus, mas agora está desejoso de desenvolver seu trabalho, candidata-se como voluntário para o serviço do mestre. O que nos falta para termos o mesmo sentimento de Isaías? Por acaso não seria um encontro genuíno com Deus e ter de fato e de verdade os pecados perdoados e retirada a culpa?

Isaías tomou consciência da graciosa purificação de seus pecados realizada por Deus e agora é tomado por um entusiasmo magnifico e um desejo enorme de sair e realizar a obra de Deus, ou seja, levar essa mesma palavra a seu povo, levar essa mesma sensação a aqueles que encontram-se em pecados e distantes da santidade de Deus.

Deixo aqui as palavras de J. Ridderbos quando comentou sobre esse chamado, em sua introdução e comentário do livro de Isaías, disse ele: “Sem esse santo entusiasmo Isaías não será capaz de cumprir a sua vocação, pois ele não recebe nenhuma promessa de sucesso. A sua promessa será pregar a ouvidos moucos”. [pg 95].

Estamos aguardando uma promessa de sucesso, ou sentimos de fato que fomos perdoados e enxergamos agora a necessidade de anunciar as boas novas e cumprir a ordem e desejo de nosso Senhor?

Meu desejo e oração neste último dia do ano é que cada um que tenha sido chamado, vocacionado, perdoado, purificado, possa receber esse mesmo entusiasmo que Deus deu a Isaías e possamos dizer sem reserva, eis me aqui, envia-me a mim.



[1] Pastor na Igreja Batista de Águas Lindas de Goiás. Bacharel em Teologia. Graduado em História. Especialização em Ensino Universitário,  e Ensino de Filosofia e Sociologia.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Quando a distração nos impede de ouvir a Deus




Jeremias 22.29
Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor!



Na década de 90 li um livro de James Long, intitulado: Por que Deus fica em silêncio quando mais precisamos dEle? O livro não é essa coisa toda, mas nos faz refletir sobre algumas atitudes de nossa jornada cristã. Dentre algumas questões, nos faz pensar sobre o silêncio de Deus em meio as aflições. Também, nos leva a compreensão de que Deus jamais se cala e que está sempre falando e conduzindo seu povo. E o que realmente acontece é que deixamos de ouvi-lo e a razão são as muitas vozes que nos rodeiam, são as grandes distrações que vem para tirar nossa olhar e atenção de nosso guia. Mostra-nos ainda, que a Bíblia continua sendo a maneira mais segura de ouvirmos a voz de Deus em meio aos temporais.
Agora, fico a me perguntar! Se Deus está sempre falando e guiando seu povo, qual a razão de vermos tantos cristãos, líderes e liderados caminhando como se não soubessem para ondem vão? Qual a razão dessa busca frenética por gurus da vivência? Qual o propósito de se ter tanto fascínios por treinadores emocionais, motivadores pessoais ou no linguajar atual coachings?
Será se por acaso não estamos sendo distraídos pelos brinquedos do mundo atual? Será se não estamos vendo uma multidão caminhando abismada e encantada com o presente século, assim como fica uma criança ao entrar no parque de diversão pela primeira vez? É preocupante observar que grande parte dos cristãos já não creem em Deus como diz as Escrituras. (Jo 7.38).
Já não percebemos uma fonte de água viva jorrando do coração dos crentes, eles correm desesperados em busca de águas em outras fontes, isso é muito preocupante. Quando somos saciados pela agua viva de Cristo, todas as demais águas deste mundo são insignificantes e já não são suficientes, nada, novo ou velho que o mundo oferece pode se comparar com o que já recebemos de Cristo.
Assim como a mulher samaritana, que após receber da água que Cristo lhe deu, largou seu cântaro junto a velha fonte de Samaria, de igual modo, precisamos ter coragem de abrir mão de certas águas ilusórias do mundo e nos deleitar em Cristo Jesus, só assim teremos água em nós (cf Jo.4; 7.39). Pois não precisaremos buscar em nenhum lugar, uma vez que Ele já colocou dentro de nós uma fonte inesgotável. Cristo é suficiente para conduzir a seu povo. Que nenhuma distração deste mundo nos impeça de continuar ouvindo a voz de nosso guia, JESUS CRISTO.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O pastor e seus corners



https://image.freepik.com/fotos-gratis/ringue-de-boxe-com-iluminacao-por-holofotes_34982-83.jpg
Pr. Reginaldo de Matos Araújo.
Novembro, 2019

Lutas corporais não são exatamente a minha paixão e tenho razões de sobra para isso, diga melhor aquelas pessoas que me conhecem. Todavia, costumo em raras ocasiões assistir uma luta profissional, que seja box ou outra qualquer. A razão é que gosto de olhar as estratégias, a coragem nos olhos dos participantes, o medo ocultado, a insegurança não revelada e as maneiras surpreendentes como se desenrolam um round.
O lutador no ring se apresenta sempre como aquele que vai ganhar, mesmo sabendo que só sairá dali um vencedor. Naturalmente, nenhum entra, pelo menos revelando isso, com o sentimento que vai perder. A razão disso na maioria dos casos não é pelo fato de ele mesmo se considerar o melhor, mas sim, porque foi treinado para ganhar.
O que leva o lutador a entrar tão entusiasmado para a luta? O que faz com ele volte para o segundo round mesmo após ter levado vários socos no primeiro round e seu oponente ter si revelado mais eficiente? O que leva um lutador a vencer o segundo round mesmo tendo perdido o primeiro? Você deve estar imaginando “ah pastor, são muitas coisas, treinamento, foco, determinação, força e coisas do tipo”. Realmente tudo isso faz a diferença, mas, no calor da luta, quando o sangue desce, a pressão aumenta, as vaias chegam e os aplausos fogem, tem alguém ali que faz todo a diferença na vida do lutador. São os corners.
Esses homens, ficam ali por 2 minutos entre um round e outro ao lado do seu lutador. O lutador é a grande estrela, todos estão de olho nele, as esperanças, as apostas, a foto na primeira capa do jornal. São eles, os lutadores que dão a cara a tapa, vão à luta, entregam seu corpo para a batalha. Erguem o troféu ou não. Mas, para que ele assim faça, há um trabalho, uma equipe, alguém por trás. O trabalho dos corners começa cedo, nos treinos, no vestiário, no córner.
Geralmente são três os que vão ao ring, ao córner. Esses homens conhecem seu lutador, suas fraquezas, limitações, características, pontos fortes e fracos, seus limites, seu peso, sua envergadura. Eles têm uma visão da luta, não a mesma do espectador, do torcedor, do apostador. Eles não assistem a luta como os demais, eles enxergam caminhos, não estão ali apenas para gritar com o lutador. Quando se encerra um round, eles entram em cena, os três estão ali, junto ao lutador cada um com a sua função, um da agua, gelo, outro alonga, faz uma massagem e geralmente apenas um fala. Disse certo treinador “temos dois minutos de intervalo, deixe ele vir com calma, use alguns segundos para acalmá-lo, deixe respirar fundo, entender o que está acontecendo para depois vir com as instruções. Fale pouco, somente o principal, sinta como está seu atleta novamente, se precisa de um choque de realidade para acordar ou se precisa acalmá-lo. Nessa hora podemos salvar a luta ou colocar tudo a perder de vez. ”[1]
Na vida pastoral, ministerial, não é diferente. Estamos sempre no ringue, o detalhe, é que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. ” (Ef 6.12). Todavia, estamos em constante luta. E não são poucas as vezes que estes lutadores se encontram sozinhos no ringue. Falta-lhes os corners.
Para estes, que não tem essas pessoas ao seu lado quando encerra-se um round é desalentador. Sentar-se no canto do ringue, sem ninguém para afagar suas costas com gelo, fazer uma massagem, acalmar você e mostra-lhe uma visão da luta pode ser o fim de muitos lutadores. Para aqueles que tem seus corners, a luta se torna diferente. Ele volta para o ringue diferente, alentado, sabendo que no final do próximo round terá alguém ali no canto esperando por ele, para orientar, dar força e ajuda-lo.
Pastor, líder cristão, quem são seus corners? Eles te conhecem? Conhecem suas limitações? Guardam isso para si ou revelam a seu oponente? Todos nós precisamos de alguém a beira do ringue, que vá até nós nos intervalos de cada round, que mesmo não entrando no confronto direto você saiba que luta com você. O córner, precisa ser alguém lúcido, que conheça as nuances da luta, que saiba de seu potencial e seja capaz de estimular você a continuar lutando.
Hoje, temos muitos lutadores e poucos corners de verdade. Temos muitos lutadores espirituais morrendo no ringue, abandonando a luta, pois olha para o canto só ver uma cadeira vazia. Encontre seu córner! Seja o córner de alguém! Essa pessoa pode ser um amigo, um irmão, uma esposa, esposo, alguém que te conheça de verdade e esteja disposto a vencer com você.
Deus pode estar nos chamando não para os holofotes, não para a luta direta, mas sim, para sermos aqueles que apoiam, ajudam, orientam, acompanham. De forma que precisamos participar da luta, não importando qual seja nossa função no ringue. Não fique de fora, essa peleja também é sua, mesmo que não tenha que pelejar, pois o senhor pelejará por vós. Envolva-se no reino de Deus. Seja um córner.

Em Cristo Jesus,
Reginaldo de Matos Araújo



[1] CAZOLARI, Felipe. Córner: Função, importância e responsabilidade. In: https://yoksutai.com

Isaías e o seu tempo, nós e nosso tempo. Como vamos reagir?

Reginaldo de Matos Araújo [1] 31 de Dezembro, 2022.   No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto...