sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O pastor e seus corners



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Pr. Reginaldo de Matos Araújo.
Novembro, 2019

Lutas corporais não são exatamente a minha paixão e tenho razões de sobra para isso, diga melhor aquelas pessoas que me conhecem. Todavia, costumo em raras ocasiões assistir uma luta profissional, que seja box ou outra qualquer. A razão é que gosto de olhar as estratégias, a coragem nos olhos dos participantes, o medo ocultado, a insegurança não revelada e as maneiras surpreendentes como se desenrolam um round.
O lutador no ring se apresenta sempre como aquele que vai ganhar, mesmo sabendo que só sairá dali um vencedor. Naturalmente, nenhum entra, pelo menos revelando isso, com o sentimento que vai perder. A razão disso na maioria dos casos não é pelo fato de ele mesmo se considerar o melhor, mas sim, porque foi treinado para ganhar.
O que leva o lutador a entrar tão entusiasmado para a luta? O que faz com ele volte para o segundo round mesmo após ter levado vários socos no primeiro round e seu oponente ter si revelado mais eficiente? O que leva um lutador a vencer o segundo round mesmo tendo perdido o primeiro? Você deve estar imaginando “ah pastor, são muitas coisas, treinamento, foco, determinação, força e coisas do tipo”. Realmente tudo isso faz a diferença, mas, no calor da luta, quando o sangue desce, a pressão aumenta, as vaias chegam e os aplausos fogem, tem alguém ali que faz todo a diferença na vida do lutador. São os corners.
Esses homens, ficam ali por 2 minutos entre um round e outro ao lado do seu lutador. O lutador é a grande estrela, todos estão de olho nele, as esperanças, as apostas, a foto na primeira capa do jornal. São eles, os lutadores que dão a cara a tapa, vão à luta, entregam seu corpo para a batalha. Erguem o troféu ou não. Mas, para que ele assim faça, há um trabalho, uma equipe, alguém por trás. O trabalho dos corners começa cedo, nos treinos, no vestiário, no córner.
Geralmente são três os que vão ao ring, ao córner. Esses homens conhecem seu lutador, suas fraquezas, limitações, características, pontos fortes e fracos, seus limites, seu peso, sua envergadura. Eles têm uma visão da luta, não a mesma do espectador, do torcedor, do apostador. Eles não assistem a luta como os demais, eles enxergam caminhos, não estão ali apenas para gritar com o lutador. Quando se encerra um round, eles entram em cena, os três estão ali, junto ao lutador cada um com a sua função, um da agua, gelo, outro alonga, faz uma massagem e geralmente apenas um fala. Disse certo treinador “temos dois minutos de intervalo, deixe ele vir com calma, use alguns segundos para acalmá-lo, deixe respirar fundo, entender o que está acontecendo para depois vir com as instruções. Fale pouco, somente o principal, sinta como está seu atleta novamente, se precisa de um choque de realidade para acordar ou se precisa acalmá-lo. Nessa hora podemos salvar a luta ou colocar tudo a perder de vez. ”[1]
Na vida pastoral, ministerial, não é diferente. Estamos sempre no ringue, o detalhe, é que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. ” (Ef 6.12). Todavia, estamos em constante luta. E não são poucas as vezes que estes lutadores se encontram sozinhos no ringue. Falta-lhes os corners.
Para estes, que não tem essas pessoas ao seu lado quando encerra-se um round é desalentador. Sentar-se no canto do ringue, sem ninguém para afagar suas costas com gelo, fazer uma massagem, acalmar você e mostra-lhe uma visão da luta pode ser o fim de muitos lutadores. Para aqueles que tem seus corners, a luta se torna diferente. Ele volta para o ringue diferente, alentado, sabendo que no final do próximo round terá alguém ali no canto esperando por ele, para orientar, dar força e ajuda-lo.
Pastor, líder cristão, quem são seus corners? Eles te conhecem? Conhecem suas limitações? Guardam isso para si ou revelam a seu oponente? Todos nós precisamos de alguém a beira do ringue, que vá até nós nos intervalos de cada round, que mesmo não entrando no confronto direto você saiba que luta com você. O córner, precisa ser alguém lúcido, que conheça as nuances da luta, que saiba de seu potencial e seja capaz de estimular você a continuar lutando.
Hoje, temos muitos lutadores e poucos corners de verdade. Temos muitos lutadores espirituais morrendo no ringue, abandonando a luta, pois olha para o canto só ver uma cadeira vazia. Encontre seu córner! Seja o córner de alguém! Essa pessoa pode ser um amigo, um irmão, uma esposa, esposo, alguém que te conheça de verdade e esteja disposto a vencer com você.
Deus pode estar nos chamando não para os holofotes, não para a luta direta, mas sim, para sermos aqueles que apoiam, ajudam, orientam, acompanham. De forma que precisamos participar da luta, não importando qual seja nossa função no ringue. Não fique de fora, essa peleja também é sua, mesmo que não tenha que pelejar, pois o senhor pelejará por vós. Envolva-se no reino de Deus. Seja um córner.

Em Cristo Jesus,
Reginaldo de Matos Araújo



[1] CAZOLARI, Felipe. Córner: Função, importância e responsabilidade. In: https://yoksutai.com

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