RESENHA
Reginaldo
de Matos Araújo*
FINZEL,
Hans. Dez erros que um líder não pode cometer. Trad. Aparecida
Araújo dos Santos. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.
Com
dedicação a seus quatro filhos, Mark, Jeremy, Cambria e Andrew,
Hans Finzel dá o pontapé inicial para esta obra exuberante. O
escritor é um renomado especialista e consultor na área de
liderança. Atualmente é presidente e CEO de WorldVenture, uma
organização americana voltada para o desenvolvimento mundial de
líderes, que possui uma equipe de 600 missionários espalhados por
65 países. Reconhecidamente, é considerado um líder entre líderes,
com uma vasta experiência com mais de 25 anos de trabalho em
organizações sem fins lucrativos, nos mais variados contextos. Hans
e sua esposa Donna viveram 10 anos em Viena, envolvidos com o
treinamento de líder por todo o leste europeu, atrás da cortina de
ferro, antes da queda do regime comunista.
Na
página dedicada aos agradecimentos, Hans relembra seu desempenho
como líder desde sua infância. Recorda ainda o fato de sempre está
fugindo dos treinamentos para capacitação de liderança. “Durante
duas décadas seguintes de experiência como líder, eu sempre
arrumava uma maneira de me ver livre de todo o treinamento formal
naquela área,” (p.09) afirma Finzel. Entretanto, agradece a Sam
Metcalf, presidente da Church Ressource Ministries, de Fullerton, na
Califórnia o qual se tornou um de seus orientadores. Agradece ainda
a Bob Clinton, personalidade ilustre que o orientou em seus estudos
do Doutorado. Reconhece também “o incrível apoio” (p. 10) de
sua esposa Donna. “Sou muito grato a Donna, que me permitiu ficar
tantas noites e fins de semana fora de casa para completar este
projeto de tanta importância para mim. ... tudo que aprendi ou fiz
de valor nesses anos, partilho com a grande esposa que Deus, por sua
graça, me deu.” (p. 10).
A
introdução do livro é feita por meio de relatos das circunstâncias
que conduziram à posição de liderança ocupada pelo autor. É
relatada ainda, parte de suas experiências pessoais como líder,
tanto o fracasso como o sucesso. Em rápidas palavras é apresentado
que “O propósito deste livro não é falar a respeito da escassez
de líderes, mas observar o que leva um bom líder ao fracasso, ou
ainda o que deve ser evitado, caso se deseje ajudar a preencher as
lacunas e re-aplainar a liderança em crise.”(p. 12).
Primeiramente,
o livro apresenta a Atitude Líder-Liderado, como sendo a dificuldade
nº 1 de liderança. Para Hans, “A abordagem líder-liderado na
liderança está baseada no modelo militar de se gritar as ordens aos
fracos subalternos”. (p.23). Para ele, esse modelo é resultado do
uso exagerado do poder e de falta de conhecimento. É ainda muito
fácil de ser praticado por ser resultado de uma reação em cadeia.
No capitulo é discorrido sobre as razões que levam líderes a
aderir a esse tipo de liderança. Diante do exposto o escritor
contrapõe novos modelos de lideranças que trazem uma abordagem
confrontativa com o formato líder-liderado onde usa como pano de
fundo e exemplo o maior de todos os líderes, Jesus Cristo.
Discorrendo sobre João 13.1 apresenta o modelo líder servo como
aquele a ser seguido.
No
capitulo dois, o assunto em pauta é a valorização da rotina de
trabalho em detrimento do pessoal. Como de costume o escritor trás
ricas experiências pessoais para servirem de modelo ao tema em
pauta. A tônica de Finzel neste capitulo está direcionada para a
liderança voltada para o trabalho, onde segundo ele, se um líder
não tem “... a saudável ênfase nas pessoas, na verdade não
estamos executando nada”, uma vez que “Liderança é basicamente
um negócio com pessoas.”(p.41). O fato de contestar este formato
de liderança consiste basicamente em saber que “... a essência da
liderança é influenciar as pessoas” (p. 44) e isso só é
possível se existir um contato direto com elas. Para Hans, as
pessoas precisam ser vistas como oportunidades e não interrupções,
o que não acontece em um formato de liderança voltada para o
trabalho.
O
capitulo três, vai tratar da Ausência de Incentivo. O enfoque está
no fato de que não é só aumento salarial que estimula o liderado,
mas gestos básicos de cordialidade são estímulos válidos. Ao
falar sobre a importância do incentivo nas relações, Finzel
declara que “Os diferentes tipos de pessoas que trabalham com e por
você exigirão diferentes doses e tipos de incentivo” (p. 55).
Para isso ele descreve um quadro o qual denomina de ‘O Continuum
do Incentivo’(p. 55). Partido deste ponto vai descrever os vários
tipos de incentivo necessários nesse continuum. Para fundamentar sua
argumentação o escritor faz uso dos escritos bíblicos
principalmente 1 Tessalonicenses 5.14.
Chegando
ao capitulo quatro a abordagem é embasada no tema: Não Há Espaço
Para os Não-Conformistas? Eles nos trazem o futuro! “As
organizações têm o hábito desagradável de se tornarem
instituições. E instituições têm a grande tendência de se
enfraquecerem, chegando à irrelevância. Os movimentos tornam-se
monumentos. A inspiração torna-se monumentos. A inspiração
torna-se instituição. A tragédia dessa história sempre repetida é
que, quanto mais velha fica a organização, menos espaços há para
os talentosos da empresa.” (p. 63). Com esse prisma, Hans trás o
quadro com “Os Ciclos de Vida das Organizações” (p. 64).
Apresentando cada estágio desde o nascimento até morte de uma
organização. Destaca ainda alguns nomes não conformistas da
história, como Martinho Lutero, Stephen Jobs dentre outros. Observa
também que a bíblia está cheia desse tipo de pessoas. Declara que
se comete grande erro quando se ofuscam esses profissionais,
colocando-os sob o jugo de infindáveis comissões e procedimentos de
rotinas de trabalho.
O
capitulo cinco, A Ditadura na Tomada de Decisões é uma critica
severa ao modelo de liderança ditatorial, onde “Eles acham que,
quanto maior forem mais saberão e mais deverão controlar os
outros.”(p. 81). O que Finzel propõe para resolver tão questão é
um modelo de liderança onde os liderados são ouvidos, uma vez que
as melhores ideias borbulham de entre eles. Partindo desse principio
ele apresenta o modelo de uma liderança facilitadora. Trás uma
variedade de quadros gráficos onde representa vários modelos
organizacionais e apresenta algumas alternativas para uma tomada de
decisão, onde as responsabilidades não sejam totalmente depositadas
nas costas do líder. Fala ainda de valores que ajudam na tomada de
decisões e relata ainda algumas experiências, deixando dicas de
liderança em equipe.
Ao
entrar no capitulo seis, a abordagem é sobre o fracasso da liderança
na delegação de tarefas, e Hans atribuem isso ao que ele denomina
de “Delegação Suja”. Pelos menos seis razões são apresentadas
à falta de delegação, 1) medo de perder a autoridade, 2) medo de
que o trabalho seja feito precariamente, 3) medo de que o trabalho
seja melhor, 4) indisposição de gastar o tempo necessário, 5) medo
de depender dos outros e 6) falta de treinamento e experiência
positiva. Para Finzel o grande pecado consiste em não “dar
liberdade às pessoas para que elas decidam como os serviços serão
feitos.” (p. 99). Apresenta ainda alguns estilos de supervisão
baseados nos diferentes tipos de seguidores.
O
Caos na Comunicação, esse é o titulo do capitulo sete, abordando
as implicações da comunicação, Finzel, usando-se de passagens
pessoais retrata a importância de uma comunicação eficiente, bem
como os prejuízos e malefícios que ela pode trazer sendo realizada
de forma incoerente. Retomando, de forma mais sucinta o quadro, “Os
Ciclos da Vida das Organizações” (p. 112) ele expõe a trajetória
das organizações do nascimento a maturidade. Fala da necessidade de
sair da comunicação oral para a formal na medida em que a
organização vai alcançando crescimento. Destaca algumas razões
das dificuldades dos líderes em ouvir, e enfatiza que líder
eficiente é líder que ouve a organização.
O
antepenúltimo capitulo intitulado “Deixando de Perceber as Pistas
da Cultura Coletiva” trata da questão que o autor define como
sendo em uma organização “... a maneira como os trabalhadores
interno se comportam, baseados nos valores e nas tradições de
grupos que conservam” (p. 131). O texto trata das dificuldades e
necessidades que trabalhadores e líderes em geral têm de adaptar-se
com a cultura organizacional. Para Hans, a cultura se manifesta, em
um novo casamento, nova igreja, nova cidade, novo emprego, novo
pastor, chefe, geração, conflito, preferências, estilo de vida e
estilos de ministérios. Neste capitulo é dada uma grande ênfase as
questões eclesiásticas, inclusive com citações de exemplos da
estratégia usada pela igreja de Saddleback. Neste comentário
apresenta a diferença das organizações e líderes cristãos.
Encontrando ainda, tempo para apresentar tipos de reações ao
conflito cultural.
O
capitulo nove, trabalha a questão da sucessão na liderança e
apresenta vários pontos que revelam o porquê de em grande parte
estas sucessões não acontecerem de forma proveitosa. Com exemplos
extraídos de sua vasta experiência como líder o escritor apresenta
alguns casos onde não foi possível a realização de uma transição
bem sucedida, bem como apresenta casos de sucesso em sua própria
vivência. E a máxima do assunto é: “Sucesso sem sucessores é
fracasso” (p. 156). Para Finzel “a única maneira de garantir que
seu grupo não escorregue para a institucionalização, calcificação
e morte é a renovação constante, como sangue novo, na forma de
novos líderes.” Discorre sobre as barreiras existentes para os
sucessores bem-sucedidos e apresenta alguns pontos que mostram por
que os líderes não conseguem liberar, ou seja, abrir mão de sua
posição de liderança. Através de um quadro intitulado “modelo
constelação” (p. 163), ele trás orientações de como o líder
pode se sair bem em sua liderança. Como dica para terminar bem um
processo de liderança é abordado os exemplos de líderes que vão
de Moisés e Timóteo.
E
por fim no capitulo dez, Hans Finzel direciona seu olhar para o
futuro, repreende as atitudes de ignorar-se esta realidade que
chegará e convoca o leitor para observar que “O futuro está
avançando em nossa direção e a nossa frente com terrível poder, o
qual nenhum homem pode deter,...” (p. 178). Fala do desejo dos
trabalhadores das organizações atuais em participarem das decisões
que afetam suas vidas. Destacando a necessidade urgente de mudanças
em alguns modelos de liderança existente, com a finalidade de não
se tornarem inaplicáveis e obsoletos. Faz menção de líderes que
tinha a visão no futuro, citando como exemplo Walt Disney que
influenciou toda a América do Norte. Encerra o capitulo, apresentando
a Bíblia e afirmando que em todo o seu conteúdo há apontamentos
para o futuro, diz Finzel, “a bíblia tem muito que dizer sobre o
futuro; na verdade, ela é um livro para futuristas”. (p. 185) em
tempo, apresenta alguns pontos para reflexão que formam uma
construção para o futuro.
É
verdade que existe uma gama de escritos destinados à liderança,
poucos, porém são tão objetivos e claro como este de Hans Finzel.
O livro consiste em um verdadeiro manual de como proceder de maneira
prudente e ao mesmo tempo ousadamente. Destaca-se pela experiência
vivenciada do escritor, dando assim, uma tônica mais vibrante ao
escrito. Mesmo passando vários exemplos de experiências vividas em
organizações paraeclesiásticas, a maioria de seus ensinamentos
podem ser usados perfeitamente por líderes que trabalham diretamente
no processo litúrgico e administrativos de igrejas.
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* Pastor em tempo integral. Professor de teologia. Pós graduado em Docência Universitária. Mestrando em Ministério.
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